Copom indica que taxa Selic pode subir para 4,25% em junho

Notícias | 05/05/21

Comitê aumentou juros em 0,75 p.p.

Decisão era esperada pelo mercado
HAMILTON FERRARI

O Copom (Comitê de Política Monetária) indica que vai subir a taxa básica, a Selic, em 0,75 ponto percentual na próxima reunião, em 15 e 16 de junho deste ano. O colegiado aumentou os juros de 2,75% para 3,50% na reunião desta 4ª feira (5.mai.2021). Eis a íntegra (50 KB).

A decisão era esperada pelo mercado financeiro. Foi a 2ª alta consecutiva. O reajuste de 0,75 ponto percentual foi sinalizado na reunião anterior do Copom, realizada em março. O colegiado é formado pelos diretores e o presidente do BC (Banco Central). Reúne-se a cada 45 dias para definir o patamar da Selic, com base nos índices de inflação e projeções do mercado para o índice de preços.

Os juros baixos estimulam a economia, mas o objetivo central do Banco Central é controlar o poder de compra da moeda. A inflação acelerou nos últimos meses: chegou a 6,10% no acumulado de 12 meses até março.

De acordo com o comunicado, a decisão está de acordo com o cenário de balanço de riscos, que apresenta “variância maior do que o usual” para as projeções de inflação. A taxa de juros no patamar de 3,5% ao ano está está “compatível” com a convergência do índice de preços para a meta em 2021 e 2022.

Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de estabilização de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”, afirmou o Copom.

Na próxima reunião, uma nova alta de 0,75 ponto percentual é esperada, mas o comitê disse que a decisão dependerá da evolução do desempenho da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções para a inflação.

CENÁRIO DO COPOM

Os diretores do Banco Central voltaram a dizer que o processo de reformas e ajustes necessários são essenciais para permitir a recuperação sustentável da economia. Segundo o comunicado, questionamentos sobre a continuidade dessas medidas e alterações de caráter permanente no viés de ajustes das contas públicas podem elevar a taxa de juros.

Por enquanto, o cenário indica normalização parcial dos juros. Ou seja, a Selic está em nível que estimula a economia, mas o Copom decide elevar a Selic em etapas até a taxa neutra. Mas o comitê disse que o compromisso é com o cumprimento da meta de inflação.

De acordo com o comunicado, novos estímulos fiscais em alguns países desenvolvidos e o avanço da vacinação contra a covid-19 “devem promover uma recuperação mais robusta da atividade ao longo do ano”. Os estímulos monetários terão longa duração nas nações. Mas o Copom disse que há questionamentos dos mercados a respeito de riscos inflacionários nessas economias, diante do grau elevado de estímulos.

No Brasil, citou que a atividade econômica tem mostrado evolução “mais positiva do que o esperado, apesar da intensidade da 2ª onda da pandemia estar maior do que o antecipado”. Mesmo assim, o nível de incerteza quanto à recuperação da economia ainda está “acima da usual”. “Aos poucos deve ir retornando à normalidade”, disse a nota.

INFLAÇÃO

O Copom disse que, com exceção do petróleo, os preços internacionais das commodities continuaram em alta, com impacto sobre as projeções de preços de alimentos e bens industriais.

A transição de bandeira tarifária de energia também deve manter o índice de preços mais alto no curto prazo.

O Copom mantém o discurso de que os choques atuais são “temporários“, mas seguirá atento à evolução dos índices de preços.

O Banco Central estimou, em março, que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) deverá chegar a 7,8% no acumulado de 12 meses até junho.

O mercado financeiro aumentou de 5,01% para 5,04% a projeção para a inflação de 2021. Foi a 4ª vez consecutiva que economistas e operadores aumentaram a previsão para o índice de preços, segundo o Boletim Focus.

Considerando as projeções do mercado financeiro, o Copom estima que o IPCA ficará em 5,1% em 2021 e 3,4% em 2022. “Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 5,50% a.a. neste ano e para 6,25% a.a. em 2022. Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados [aqueles definidos por contratos, como tarifa de luz e gasolina] são de 8,4% para 2021 e 5,0% para 2022″, disse o colegiado.

Assim como nos últimos comunicados, o Copom disse que há riscos tanto para a alta, quanto para a queda da inflação. De um lado, o processo de recuperação econômica pode ser mais lento do que o esperado, o que diminui a demanda estimada na economia e, consequentemente, as perspectivas para o índice de preços.

Por outro lado, o aumento de gastos para o combate aos efeitos da pandemia de covid-19 no país e as frustrações em relação à continuidade de reformas podem subir os prêmios de risco do país.

“O risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária”, disse.

Em 2020, a inflação terminou aos 4,52%. O percentual ficou acima do centro da meta, que era de 4%, mas está dentro do intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais e para menos (de 2,5% a 5,5%).

A meta de 2021 é 3,75%, com o mesmo intervalo de tolerância (de 2,25% a 5,25%). As estimativas dos economistas estão próximas do teto da meta. Pressionaram a alta da inflação nos últimos tempos o dólar alto, o custo dos combustíveis, a valorização das commodities e dos alimentos.

Além disso, a situação fiscal deteriorada do Brasil exige mais cautela, dada a trajetória de alta da dívida pública. O governo federal está com as contas no vermelho desde 2014. Em 2020 e em 2021, precisou ampliar gastos para socorrer os Estados, as empresas e a população mais vulnerável por causa de medidas de restrição à circulação determinadas para combater a pandemia.

No acumulado de 12 meses, as despesas do governo federal superaram as receitas em R$ 759,5 bilhões, o que equivale a 9,5% do PIB (Produto Interno Bruto).

A dívida bruta do país está em 89,1% do PIB (Produto Interno Bruto), o que equivale a R$ 6,72 trilhões. O endividamento está acima da média de seus pares, segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

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Fonte: Poder 360